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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Dia e Noite [Parte 1] (29/04/2010)

Bom dia pecador...


Ontem foi o dia da sogra. E sim, aqui no inferno também foi, mas... ainda bem que eu não tenho uma, afinal, Deusão me criou do nada. Na verdade, segundo ele, apenas de sua bondade. Entretanto, isso me fez refletir e chegar a algumas conclusões hoje pela manhã.

Tudo na vida, seja ela terrena ou não, há um lado bom e um lado ruim. Acreditem em mim, o Barbudão lá em cima já teve (e ainda suspeito que tenha) seu lado mau.

Lembro-me muito bem quando nasci. A primeira coisa que eu vi foi uma luz muito forte, fazendo com que eu mal conseguisse enxergar onde eu estava. Segundos depois fui me acostumando com o mundo ao qual eu fora inserido, e pude observar e sentir a grossa palma da mão de Deus, sobre a qual eu despertara. Tudo era muito claro, de uma branquidão celestial de encher os olhos.

Fui a primeira criação do meu Pai, e a mais perfeita, à modéstia parte. Éramos só nós dois na eternidade. Em um belo momento (ainda não existia dia, nem nenhuma delimitação temporal) decidi explorar a imensidão que nos rodeava. Lembro que ainda era jovem quando bati minhas asas e me projetei para fora da grande palma da mão direita de meu Pai. Minha memória não falha. Contornei o corpo de meu Criador até alcançar a outra extremidade de seu corpo. Sua mão esquerda. E lá, para minha grande surpresa, deparei-me com algo que nunca esqueci, pois me trouxe novos sentimentos e novas concepções sobre tudo que eu já conhecia e viria a conhecer. Era uma sombra negra, um corpo sombrio e rastejante, que se debatia e relutava contra a força esmagadora dos dedos de Deus, que o comprimiam e limitavam seu espaço assim como uma gaiola prende um pássaro.

Ao mesmo tempo que senti pena daquela criatura, daquela forma errante e aparentemente inofensiva, sorri. Mas não foi um sorriso comum, foi um sorriso malicioso, jocoso e cruel. Pela primeira vez eu havia sentido um sentimento tão grandioso. De certa forma, eu sentira prazer em observar aquele ser sentir dor e agonizar preso dentro dos dedos do meu Pai.

Vendo que eu tinha alcançado um lugar inapropriado para mim (como diria Deus mais tarde), meu Pai levantou sua mão esquerda para longe de meu alcançe, e em um tom de voz ao mesmo tempo zeloso e irritado, me disse que eu não deveria estar ali, que fora um erro meu sair de onde Ele tinha me colocado.

Agora eu me pergunto. Que culpa teria eu de utilizar minha própria capacidade e minha própria necessidade de conhecer e explorar, que por sinal, ele mesmo havia concedido a mim ao me criar? É proibir de abrir os olhos aquele que acabou de nascer. Ou seja, eu tinha tudo... tinha a ele, a eternidade, e a juventude, mas não podia usufruir de nada, apenas ficar sentadinho em sua mão, esperando a próxima ordem...

Mas o que nem eu (naquela época) e nem a onisciência do Todo Poderoso percebemos de imediato foi que meu contato com aquela criatura sombria e disforme havia me afetado... profundamente...

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