Perguntas e Respostas

Dançando com o Capeta

Copa do Fundo 2010

Besta é quem compra!

Bertone Bestone

Dia e Noite [parte 1]

Dia e Noite [Parte 2]

Dia e Noite [Parte 3/Final]

Evangelho segundo Samael

O choro do Papa

Rio é Rio ou é Lagoa?

terça-feira, 25 de maio de 2010

Plantando Maio (25/05/2010)

Você, caro pecador, já teve a honra de ter um Maio plantado em sua homenagem?


Não entendeu? Tudo bem... vou explicar melhor.

Estes dias eu estava lembrando dos bons momentos que passei infernizando a humanidade durante todos estes séculos que se passaram, e me deparei com uma lembrança muito curiosa.

Por volta do século XV, na Europa, especialmente na região da França, era comum plantar uma Árvore de Maio em sinal de respeito, honra, ou afeto a alguém. O costume ganhou força na época, e os rapazes apaixonados começaram a também "plantar" uma Árvore de Maio em frente à casa de suas amadas em sinal de amor. Neste caso, eles não "plantavam" realmente... apenas penduravam ramos e galhos da Árvore de Maio decorados com flores e, claro, com o nome da amada.

Enfim... enquanto os enamorados rapazes penduravam seus "Maios" em frente às casas das donzelas,  eu as seduzia e acabava arruinando todo o lindo romance que pairava no ar. É claro que a minha intenção era das piores... digo, das melhores. Livrei muitas mulheres do divino tanque de roupas sujas e do sacramentado fogão à lenha.

Além disso tudo, as Árvores de Maio também eram palco de grandes festas, nas quais as moças e rapazes dançavam ao seu redor no embalo da música. Eram as "rondas de Maio". Até eu arrisquei dançar um pouquinho com os cidadãos locais... afinal, naquela época, a gula e a luxúria reinavam, e incentivar cada vez mais a prática dos sete pecados é sempre saudável.

Como se não bastasse o lado "ecológico" do Maio, não podemos nos esquecer da sua mais corriqueira atribuição: o mês de Maio.

Como se não bastasse ser o mês das mães, maio também é o mês de Maria, mãe de Jesus Cristo. Isto mesmo. Aproveitaram que Maria também foi mãe, e, unindo o inútil ao desagradável, decidiram nomear o mês de maio como "mês da Virgem Maria", que aliás, de virgem não tem nada, ou vocês acham que Deusão é besta?

Bom, tenho que ir agora, parece que está tendo uma confusão lá na portaria do Inferno... vou lá checar e colocar desordem na casa.

Abraços abrasivos!


segunda-feira, 24 de maio de 2010

Projeto 2012 (24/05/2010)

Boa tarde pecadores...


Esta semana que passou foi cansativa para mim. Tivemos uma série de reuniões a respeito do "Projeto 2012". Durante vários dias discutimos o que seria realmente feito neste ano, e acabamos por fazer um retrospecto de algumas datas importantes que não deixamos passar em branco.

A primeira grande obra foi a Maçã de Eva. Como sabem, não foi uma criação direta minha... pois foi o Poderosão quem a criou efetivamente. Mas a idéia de semear um pouquinho de maldade em todo aquele mar de bondade que era o Paraíso foi idéia minha, e confessem, valeu a pena não valeu? Se não fosse aquela maçãzinha vermelha ainda estariam todo nus (sem sacanagem, no mau sentido) dormindo embaixo de árvores e sem seus amados computadores. Tedioso não?

Podemos considerar um outro grande feito a Peste Negra. Nossa EEGI (Equipe de Engenharia Genética do Inferno) ganhou gratificações pelo feito. Não por terem conseguido dizimar 1/3 da população européia (longe disso), mas por ter conseguido criar uma moléstia quase perfeita. Serviu de base para o "produto final", que está sendo preparado para o dia do Juízo Final. Lembro como se fosse hoje... a cada dia que se passava lotes e lotes de almas recém-caídas chegavam à nossa porta, ansiosas por conhecer o novo lar.
Apesar de todo seu potencial o vírus Ebola não deu bons resultados. Pelo menos não tanto quanto esperávamos. Na verdade não era nem para ele ter escapado do Inferno naquela época. Era apenas um experimento. Ainda bem que ele foi parar lá naquela caverna da África... se tivesse caído em um grande centro urbano aí sim as coisas iriam esquentar.

De lá pra cá a EEGI veio trabalhando intensamente para chegar a um "produto" perfeito, que atinja todas as classes e consiga infectar o maior número de consumidores quando chegar a hora certa. Afinal, temos a globalização a nosso favor!

No mais, não posso oferecer mais detalhes... pelo menos por enquanto. Não posso estragar a festa. Mas fiquem tranquilos, que o mundo não irá acabar em 2012... não totalmente...

Abraços abrasivos! Tentem se manter vivos até lá ou perderão a surpresa!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Besta é quem compra (14/05/2010)

Boa tarde pecador...


Estive meio ausente do blog estes dias devido ao aumento de tarefas pendentes aqui no Inferno. Mas, como sempre, não vim de mãos abanando e irei compartilhar algumas novidades com vocês.

Não tivemos grandes mudanças estes dias que se passaram aqui no Inferno. Continuamos apenas mantendo o ritmo diário de trabalho, interferindo indiretamente nas relações diplomáticas entre as nações do Oriente Médio, corrompendo algumas almas, checando e organizando o fluxo matinal de caídos, enfim, nada de novo, exceto pela pequena greve nos portos na África do Sul que eu incitei. A propósito, não tem dedo meu na Tailândia, só para deixar claro.

A Copa do Mundo 2010 está aí, e eu não poderia deixar passar em branco, afinal, não é todo ano que se tem a oportunidade de atingir várias nações de uma vez só. E para isso, nada como uma boa greve para começar a trazer o caos. Com toda esta movimentação e preparativos para a Copa, os trabalhadores ficaram sobrecarregados, cansados... momento ideal para eu aproveitar e dar asas aos sentimentos de revolta que estavam dormentes em cada alma de cada trabalhador.

Mas meu grande trunfo não é este. Meu grande trunfo, na verdade, já foi implementado há eras atrás, mas agora, com o consumismo fervendo no sangue da humanidade (ainda mais durante uma Copa do Mundo), ele está dando resultados como nunca dera antes!

Meu grande trunfo é o número 666!!

Você deve estar se perguntando... como assim? Oras... em todo lugar. Eu estou representado em todos os lugares, em todos os produtos, em todas as ofertas, em tudo que se faz, que se compra e que se consome. Ainda não descobriu? Ok... vou explicar melhor.

Tudo começou em 1948, quando os estudantes Bernard Silver e Norman Woodland começaram a trabalhar em um sistema de identificação de produtos, que conhecemos hoje como códigos de barra (mas ainda diferente do que temos hoje). Bom, o código de barras em si não era nada, até que eu, muito esperto, à modéstia parte, vi nele uma grande chance de ampliar meus domínios.

Em 1974, consegui fazer com que um comitê formado pela National Association of Food Chains (NAFC) fizesse uma pequena reforma no sistema original, inserindo linhas verticais no código (assim como o temos hoje). Até aí nada demais certo?

A minha grande jogada não foi apenas participar do comitê, mas foi, através dele, inserir o que eu chamei de "toque-final", mais conhecido por vocês humanos como "linhas-guia". Apesar da idéia das linhas verticais ser simples e prática, ficou faltando algo no código de barras, algo que indicasse seu início, meio e fim. E foi aí que eu dei meu toque final. Cada número no código de barras é representado por um arranjo de linhas verticais, que são divididas em dois grupos (duas metades) pelas três linhas-guia (uma no início, uma no meio, e uma no fim do código), sendo que cada uma tem o mesmo formato do número 6!! Logo, todo código de barras traz nele, obrigatoriamente, meu número, o 666.

Mas não para por aí. Do código de barras para as promoções e ofertas foi um pulo. Quem nunca viu um "Oferta: R$ 9,99!!!" na prateleira de algum supermercado ou um "Por apenas R$ 999,00" na etiqueta de alguma loja de eletrodomésticos? É só inverter verticalmnte o preço que teremos meu número. E olha que minha equipe de marketing está com projetos ainda mais ousados para implementar minha marca.

Até a bíblia tem seu código de barras nas livrarias...

Abraços abrasivos aos consumidores de todo o mundo!

"E fez que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, lhes fosse posto um sinal na mão direita, ou na fronte, para que ninguém pudesse comprar ou vender, senão aquele que tivesse o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome. Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis." Apocalipse 13:16-18

sábado, 8 de maio de 2010

Dia e Noite [Parte 3/Final] (08/05/2010)


O

s dias que sucederam à chegada dEle voltaram a ser o que eram antes. Eu continuei a ser Lúcifer, a ser o Príncipe Regente. Todas as atividades foram retomadas, e tudo havia voltado ao ritmo habitual.

Deus se ausentara novamente, logo após seu aviso, sua ameaça. Sua atenção estava focada em algo novo, em algum canto longínquo da eternidade. Local este que eu só vim a conhecer eras mais tarde.

Deus havia concluído sua nova criação, e nós, anjos, conseguíamos observar seu lampejo distante cintilar no horizonte da Cidade de Prata. Ele a nomeou de Universo. Todos nós um dia viríamos a conhecer explorar todos os limites da nova criação. Mas eu... eu faria diferente... eu iria fazer daquele Universo o meu próprio Universo. E nem Ele seria capaz de me impedir.


Imagine uma chama pequena e tímida, queimando lentamente no topo do pavio de uma vela. Seu fogo ainda azulado parece inerte. Com o passar do tempo esta pequena chama passa a conhecer melhor sua casa, seu lar, e começa a explorá-lo. Quanto mais a pequena chama azul se atreve a descer pelos caminhos tortuosos do pavio, mais ela o consome.

Aos poucos a pequena chama azul vai crescendo, aumentando sua intensidade. Sua luz agora não é mais cristalina, e sim um borrão amarelo que serpenteia, dança maliciosamente de acordo com o balançar de sua própria chama, com a morte lenta e dolorosa do que uma vez foi seu lar, o pavio.

Em determinado momento, o pavio, suplicando por piedade, no auge de sua perdição, adquire um reforço, uma proteção... a cera da vela. Mas para seu desespero, a cera de nada adianta. A pequena chama azul se transformou em um monstro vermelho, disforme, faminto por mais pavio, faminto por novos horizontes. Esta nova chama intensifica sua luz, faz dela mesma seu próprio sol, seu próprio dia.

Mas todo dia tem seu crepúsculo. O pavio chega ao fim, assim como a cera que o envolvia. A grandiosa chama vermelha, intensa e luminosa, começa a perder sua força, e à medida que se debate para se manter viva, sua luz vai diminuindo. A pequena luz não voltou a ser azul. Continua vermelha... vermelha de fúria, vermelha de ódio. O pavio acaba. A chama se apaga. Toda a luz que antes existia, agora é somente escuridão.

Esta chama um dia foi minha alma. E o sol que raiava dentro de mim já se pôs. Já é noite dentro de mim... e esta noite... não tem amanhecer.

domingo, 2 de maio de 2010

Dia e Noite [Parte 2] (02/05/2010)

O mau não tem cheiro, não tem cor, não tem forma, não tem expressão... pois ele se expressa através de nós. O mau... havia entrado dentro de mim, se tornado parte de mim.


A partir daquele dia eu não fui mais o mesmo...

Após tirar sua mão esquerda do meu alcance, levando consigo aquela estranha criatura amorfa, eu ainda sentia sua presença. Passei a ver as coisas diferentes, de ângulos diferentes. Eu não era mais o mesmo. Isto... eu posso afirmar.

Em toda sua grandeza, meu Pai não percebera de imediato o quanto eu havia mudado. Ele só veio a perceber mais tarde... e já era tarde demais.

Um dos novos sentimentos que experimentei foi a solidão. A presença Dele não era mais suficiente para suprir meus anseios. Eu queria descobrir coisas novas. Talvez Ele tenha lido minha mente, talvez apenas tentado compensar a solidão que emanava de meus olhos como chamas, mas tudo que me lembro foi que em um belo momento da eternidade, Deus criou meus semelhantes. Sim, semelhantes, pois a única perfeição angelical era propriedade minha, só minha, do primogênito dos anjos. Eu era o primeiro, o mais belo, o mais perfeito.

E lá se foram, gerações e gerações de anjos, todos feitos à Sua imagem e semelhança, como eu, mas também assim como eu, dotado de asas... reluzentes asas claras e puras, como uma vez as minhas já foram. Mas isso era passado. Meu novo nome passou a ser Lúcifer. Era como meus irmãos me chamavam, o "portador da luz".

Um novo líder havia emergido nos céus, demarcado seu território, delineado suas fronteiras e adquirido seus próprios seguidores. Lúcifer, o príncipe regente da Cidade de Prata.

Sim, para a maioria esmagadora dos anjos eu era seu líder, seu tutor, seu professor, e porque não, seu próprio Deus presente, uma vez que Ele, era (e é até hoje), um Deus ausente. A ambição e a cobiça fervilhavam dentro de mim. Entretanto, quem é vivo sempre aparece, e meu Pai desceu de seu refúgio divino, dos confins da eternidade, e pairou sobre a cidade dos anjos, a Cidade de Prata.

Sua presença abalou as estruturas da cidade. Sua voz, inconfundível, apenas deu um recado. Não um recado comum, mas um aviso, um aviso direcionado a mim. O aviso era simples.

- Samael, meu filho - disse Deus, e sua voz ecoou como rajadas de ventos pelos quatro cantos da cidade. - Suas atitudes recentes chamaram minha atenção. Onde estão seus princípios filho? Onde está toda a sabedoria que lhe passei quando ainda era mais jovem? Estou desgostoso com você. Não parece ser mais um filho meu. Olhe ao seu redor, e veja, não com seus olhos, mas com sua alma, ou pelo menos a parte dela que ainda quer ver. Veja o caminho pelo qual está seguindo.

Eu me lembro de cada palavra, de cada detalhe. Interpretei aquilo como um desaforo, uma afronta. Mas eu ainda não era destemido o suficiente para enfrentá-lo. Era jovem demais, e todo aquele que ainda é jovem demais, teme seu pai.

- Samael, meu primogênito. Só há um meio de recuperar sua pureza. Você deve abandonar tudo que conquistou, abrir mão de tudo que adquiriu, inclusive de sua liderança. Pois só existe um Deus... e ele NÃO é você...

Todos os demais anjos permaneceram calados, envolvidos pela sombra do silêncio. Menos eu. Eu gritava por dentro... gritava de medo... gritava de desespero... gritava de ÓDIO!

Pela primeira vez eu senti o gosto amargo da vergonha escorrer dentre meus lábios translúcidos. Mas algo dentro de mim crescia fora de meu controle, e queria vingança!

Até hoje eu me pergunto. Se Ele é realmente onisciente, por quê não havia previsto que tudo aquilo aconteceria, e mudara o rumo das coisas antes de acontecerem? Se Ele é realmente onipresente, por quê não me dera o recado em meu coração, ao invés de me fazer sentir vergonha diante de meus irmãos? Se Ele é realmente onipotente, por quê simplesmente não mudou tudo ao seu bel prazer, ao invés de pedir pela mudança?

Tudo que sei é que uma única gota d'água é capaz de transbordar o copo. E a minha gota... já havia pingado.