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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Muitas Novidades (19/08/2010)

Boa tarde pecadores!


As últimas semanas foram corridas aqui no Inferno. Tivemos muitos imprevistos neste meio de ano, inclusive com o aumento repentino de almas que chegaram aqui nas profundezas. O número de caídos superou as expectativas, fazendo com que nós tivéssemos que improvisar alguns acampamentos provisórios, até conseguir acomodar todas as almas condenadas. Andei refletindo algumas noites e cheguei à conclusão que apesar de toda esta desordem, há um lado positivo nisso tudo. Se durante as férias do meio de ano (pensem em um âmbito global) as pessoas estão aproveitando para pecar mais, é um bom sinal. Pelo menos para mim é uma ótima notícia. Inclusive, já estou com um projeto para ampliar os limites do Inferno, afinal, as pesquisas indicam que a cada ano receberemos mais e mais pecadores.

Como se não bastasse a superlotação infernal, tivemos também o dia do advogados. Este sim foi um dia cansativo para mim. Entrar em contato e visitar todos os meus advogados não foi fácil, afinal, de advogado do Diabo o mundo está cheio não é mesmo? Não é do meu feitio fazer sala para ninguém, mas interpretem esta minha empreitada diplomática como uma jogada estratégica. Manipular a lei dos homens é fundamental para manter a desordem.

Falando em desordem, com toda esta correria, acabei não dando um infeliz dia dos pais para o barbudão. Ultimamente ele anda tão nas nuvens que acho que nem percebeu.

Bom, exatamente daqui 10 minutos tenho uma reunião com a equipe de marketing, e, portanto, não poderei demorar mais aqui. Estamos bolando uma surpresa para vocês aí da superfície. Aguardem as eleições e verão... 

Tenham um péssimo final de dia.

Abraços abrasivos!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Crônicas de Lillith: Em nome da honra (07/07/2010)

Como sempre, ao acordar, temos a sensação de que nunca dormimos o suficiente, e que ficar mais alguns minutos na cama não faria mal algum. Mas o mundo lá fora ferve enquanto permanecemos inertes em nossos aposentos, e o que o tempo deixa para trás, raramente é resgatado.


Segundos após eu abrir meus olhos e contemplar a noite que já estava em seu auge, observei o pequeno despertador que parecia vigiar atentamente o quarto, bem do alto de seu criado-mudo. Durante alguns segundos pensei em como seria o amanhecer ensurdecedor que aquele curioso dispositivo traria. Talvez, se não fosse tão irritante, não acordaria ninguém, portanto, considerei como sendo um mal necessário. Na verdade, curiosamente, sempre acordo antes do despertador tocar, portanto, creio que não precisarei de um tão cedo.

Levantei-me aos poucos, deixando que os lençóis de seda escorregassem lentamente pelo meu busto nu até que percorressem delicadamente cada parte do meu corpo, saboreando meus quadris e morrendo em minhas pernas. Ao olhar para o espelho na parede, deparei-me com uma bela jovem de cabelos ruivos e levemente anelados e de lábios vermelhos. Seus olhos acinzentados me fitavam fixamente, e não se intimidavam diante daquele corpo despido que timidamente entrara em seu campo de visão. Seus traços finos e suaves moldavam uma face digna de uma bela pintura, e sua pele alva, apesar de clara como a neve, era quente como brasa. Enquanto eu apreciava meu reflexo no espelho, um vento frio entrou repentinamente pela janela, eriçando todos os pelos do meu corpo, entretanto, não foi capaz de acordar a bela jovem que dormia ao meu lado. Seus longos cabelos lisos e negros se espalhavam suavemente pelos lençóis, e sua pele morena contrastava com o branco gélido da roupa de cama. Seus lábios carnudos repousavam graciosamente no travesseiro, convidando os meus a se juntarem novamente em mais uma aventura. Mas deste convite eu já havia aceitado, e não costumo traçar um caminho já percorrido.

Silenciosamente, andei pelo quarto em busca das minhas peças de roupas espalhadas pelo chão. Em meio aos passos leves pelos quais eu flutuava pelo decorado quarto, me deparei com um colorido mural de fotos. Observei durante alguns minutos todo o conjunto de imagens felizes e alegres, as quais, na maioria das vezes, carregava em suas molduras a jovem adormecida, de pele morena, ao lado de um rapaz alto e loiro. Mas foi uma foto em especial que me chamou mais a atenção. Apesar de pequena, uma foto pode dizer mais do que se imagina, e aquela em particular, era um livro com muitas páginas, prestes a serem queimadas e esquecidas no tempo. O jovem loiro e alto estava fardado, e pelos adereços que pendiam em sua farda, conclui que além de militar condecorado, o rapaz trazia em seu sorriso um certo ar de orgulho, como se aquele fosse mais um objetivo conquistado. Ao seu lado, de pé, estava a bela morena de lábios carnudos, que talvez, estivesse realizando seu maior sonho. De véu e grinalda, aquela mulher de traços firmes e sensuais mais parecia uma criança que acabara de ganhar seu presente de natal, de tão feliz que parecia estar. Lágrimas de felicidade estavam retidas em seus grandes olhos negros, e talvez retidas permanecessem, pois creio que a vaidade não permitiria que a maquiagem fosse estragada em um momento tão especial. Definitivamente, um belo casal. De um lado um militar condecorado, orgulhoso e honrado, do outro, uma mulher sonhadora, vaidosa e ávida por construir um lar.

Não demorei muito e deixei o mural de fotos para trás, e, já com todas as peças de roupas nos braços, sentei-me levemente na cama, a fim de não acordar a bela adormecida. Delicadamente peguei minha lingerie negra, e, subindo-a pelas minhas pernas, fiquei de pé para que se encaixasse perfeitamente em meus quadris. Logo depois vesti a meia 5/8, prendendo-a nas alças finas que desciam da minha cintura. Ainda de pé, vesti a parte de cima da lingerie. Minutos depois eu já estava pronta. Em frente ao longo espelho da parede, fitei novamente a mulher ruiva de olhar penetrante. Seus longos cabelos anelados já não mais pendiam em seu busto nú, pois este agora estava coberto por um vestido justo e negro como a noite. Deixando os ombros e as costas à mostra, o curto vestido seguia perfeitamente as curvas do seu corpo, terminando delicadamente na altura em que a meia, também negra, terminava. Seus lábios vermelhos estavam ainda mais intensos com o batom que acabara de passar, e logo após se contemplarem diante do espelho, se contraíram em um leve sorriso, doce e cruel.

Prestes a deixar os aposentos, retirei de minha bolsa um pequeno cartão do consultório no qual a bela morena trabalhava, e, atrás dele, escrevi em letras arredondadas: “A noite foi maravilhosa. Talvez a melhor de todas... espero que não seja a última. Com amor, Lillith”. Finalizei a mensagem dano um beijo no verso do cartão, logo abaixo da mensagem, deixando marcados em vermelho os lábios em forma de beijo. Deixei o cartão no criado mudo, logo ao lado da delicada aliança de ouro da adormecida morena, que durante a noite, fiz questão de tirar sem que ela percebesse. Ainda dentro do quarto, tirei meu perfume da bolsa, e borrifei algumas vezes em meu pescoço. Abri lentamente a porta do quarto, e antes de fecha-la, fitei morena de lábios carnudos que dormia nua e tranquilamente em sua cama. Às vezes eu me surpreendo com a carência dos seres humanos. Nada os satisfaz por completo, e tudo não basta para preencher este vazio. É uma pena que uma mulher não nova e bonita, que estava começando a traçar sua própria história, fosse tão carente e fácil de ser seduzida. Fácil como qualquer outra pessoa.

Enquanto deixava o aconchegante apartamento, me deliciei imaginando o que aconteceria quando o dia amanhecesse. Provavelmente o jovem militar, cansado do seu trabalho noturno, chegaria em casa louco para encontrar sua esposa, que ainda estaria dormindo, pois seu despertador não iria funcionar tão cedo. Entretanto, o maridão notaria que algo estava errado. O cheiro doce que vinha de seu quarto não era semelhante a nenhum perfume que sua esposa já usara, e ao adentrar no cômodo, encontraria sua mulher nua, sem aliança, e com um estranho bilhete deixado no criado mudo. Os homens se gabam pelos erros que cometem, mas não perdoam os erros de suas mulheres, e aquele rapaz, definitivamente não perdoaria, pois sempre colocou sua honra em primeiro lugar, uma vez que foi educado e condicionado a isso, afinal, para ser um militar condecorado, são necessários anos de serviço às forças armadas. Para sua mente estreita e cheia de pré-conceitos, ser traído só poderia ser pior do que ser traído com outra mulher. Talvez ele perdesse a cabeça antes mesmo de sua esposa despertar, ou não, poderia perder a cabeça depois de uma longa discussão. A única certeza que tenho é que não só lágrimas serão derramadas nesta manhã. Mais uma história havia terminado em um fim trágico, e talvez não só uma, mas duas vidas também encontrariam o final da estrada naquele dia que nascia. Só de imaginar tudo isso senti um frio na espinha, mas não de medo ou de tristeza, e sim de satisfação, de alegria, de excitação. Um sorriso cruel despontou em meus lábios cor de fogo.

Já fora do edifício, que nas horas seguintes seria palco de mais uma manchete sangrenta nos jornais do dia, continuei caminhando pelas ruas desertas que só as madrugadas conseguem desenhar com louvor. A lua coroava a noite fria e estrelada, iluminando timidamente a cidade que despertava. Olhei para a direita, contra o vento frio que soprava do mar. No horizonte, um feixe vermelho vivo manchava sombriamente as águas, formando uma espécie de divisa entre o céu e o mar. Em menos de uma hora o sol começaria a despontar, avermelhando mais ainda as águas durante o amanhecer. Meus olhos faiscaram em um misto de fogo e maldade, e ainda com um sorriso sombrio nos lábios, segui meu caminho, sumindo em meio aos cruzamentos e esquinas.