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domingo, 2 de maio de 2010

Dia e Noite [Parte 2] (02/05/2010)

O mau não tem cheiro, não tem cor, não tem forma, não tem expressão... pois ele se expressa através de nós. O mau... havia entrado dentro de mim, se tornado parte de mim.


A partir daquele dia eu não fui mais o mesmo...

Após tirar sua mão esquerda do meu alcance, levando consigo aquela estranha criatura amorfa, eu ainda sentia sua presença. Passei a ver as coisas diferentes, de ângulos diferentes. Eu não era mais o mesmo. Isto... eu posso afirmar.

Em toda sua grandeza, meu Pai não percebera de imediato o quanto eu havia mudado. Ele só veio a perceber mais tarde... e já era tarde demais.

Um dos novos sentimentos que experimentei foi a solidão. A presença Dele não era mais suficiente para suprir meus anseios. Eu queria descobrir coisas novas. Talvez Ele tenha lido minha mente, talvez apenas tentado compensar a solidão que emanava de meus olhos como chamas, mas tudo que me lembro foi que em um belo momento da eternidade, Deus criou meus semelhantes. Sim, semelhantes, pois a única perfeição angelical era propriedade minha, só minha, do primogênito dos anjos. Eu era o primeiro, o mais belo, o mais perfeito.

E lá se foram, gerações e gerações de anjos, todos feitos à Sua imagem e semelhança, como eu, mas também assim como eu, dotado de asas... reluzentes asas claras e puras, como uma vez as minhas já foram. Mas isso era passado. Meu novo nome passou a ser Lúcifer. Era como meus irmãos me chamavam, o "portador da luz".

Um novo líder havia emergido nos céus, demarcado seu território, delineado suas fronteiras e adquirido seus próprios seguidores. Lúcifer, o príncipe regente da Cidade de Prata.

Sim, para a maioria esmagadora dos anjos eu era seu líder, seu tutor, seu professor, e porque não, seu próprio Deus presente, uma vez que Ele, era (e é até hoje), um Deus ausente. A ambição e a cobiça fervilhavam dentro de mim. Entretanto, quem é vivo sempre aparece, e meu Pai desceu de seu refúgio divino, dos confins da eternidade, e pairou sobre a cidade dos anjos, a Cidade de Prata.

Sua presença abalou as estruturas da cidade. Sua voz, inconfundível, apenas deu um recado. Não um recado comum, mas um aviso, um aviso direcionado a mim. O aviso era simples.

- Samael, meu filho - disse Deus, e sua voz ecoou como rajadas de ventos pelos quatro cantos da cidade. - Suas atitudes recentes chamaram minha atenção. Onde estão seus princípios filho? Onde está toda a sabedoria que lhe passei quando ainda era mais jovem? Estou desgostoso com você. Não parece ser mais um filho meu. Olhe ao seu redor, e veja, não com seus olhos, mas com sua alma, ou pelo menos a parte dela que ainda quer ver. Veja o caminho pelo qual está seguindo.

Eu me lembro de cada palavra, de cada detalhe. Interpretei aquilo como um desaforo, uma afronta. Mas eu ainda não era destemido o suficiente para enfrentá-lo. Era jovem demais, e todo aquele que ainda é jovem demais, teme seu pai.

- Samael, meu primogênito. Só há um meio de recuperar sua pureza. Você deve abandonar tudo que conquistou, abrir mão de tudo que adquiriu, inclusive de sua liderança. Pois só existe um Deus... e ele NÃO é você...

Todos os demais anjos permaneceram calados, envolvidos pela sombra do silêncio. Menos eu. Eu gritava por dentro... gritava de medo... gritava de desespero... gritava de ÓDIO!

Pela primeira vez eu senti o gosto amargo da vergonha escorrer dentre meus lábios translúcidos. Mas algo dentro de mim crescia fora de meu controle, e queria vingança!

Até hoje eu me pergunto. Se Ele é realmente onisciente, por quê não havia previsto que tudo aquilo aconteceria, e mudara o rumo das coisas antes de acontecerem? Se Ele é realmente onipresente, por quê não me dera o recado em meu coração, ao invés de me fazer sentir vergonha diante de meus irmãos? Se Ele é realmente onipotente, por quê simplesmente não mudou tudo ao seu bel prazer, ao invés de pedir pela mudança?

Tudo que sei é que uma única gota d'água é capaz de transbordar o copo. E a minha gota... já havia pingado.

5 comentários:

  1. Oi colega... vc adivinhou meu pecador maior... a gula affff....
    Um abraço ou melhor não quero abraçar o diabo não...
    Fique no seu calor eterno ehehehhe

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  2. "Se Ele é realmente onisciente, por quê não havia previsto que tudo aquilo aconteceria, e mudara o rumo das coisas antes de acontecerem? Se Ele é realmente onipresente, por quê não me dera o recado em meu coração, ao invés de me fazer sentir vergonha diante de meus irmãos? Se Ele é realmente onipotente, por quê simplesmente não mudou tudo ao seu bel prazer, ao invés de pedir pela mudança?"

    Porque foi assim que Ele quis que acontecesse. Vc acha que foi um acaso vc tornar o que é? Patético. Livre arbitrio é uma farsa, inclusive o seu; vc se transformou em exatamente o que Ele precisava que vc se transformasse. Afinal, oq seria do bem se nao houvesse o mau/vc?

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  3. Saudações caro pecador,

    Apesar de eu ter gostado de seu comentário, sinto-lhe informar que seu raciocínio é um tanto falho. Talvez não tenha refletido bastante, ou talvez sua mente ainda seja muito pura e desprovida de certa malícia.

    Entretanto, fiquei satisfeito ao ver que minha postagem atingiu seu objetivo. Fazer o leitor refletir. Apesar de serem introduzidos vários questionamentos nos textos “Dia e Noite”, isto não implica que eu não saiba suas respostas.
    Mas, para não alongar muito este comentário, vou finalizar com uma citação da obra De Ira Dei (A Ira de Deus) de Lucio Célio Firmiano Lactâncio, autor cristão (240 d.c - 320 d.c):

    “Ou Deus quer extirpar o mal deste mundo, e não pode, ou pode e não o quer; ou não pode nem quer; ou, finalmente, quer e pode. Se quer e não pode, é sinal de impotência, o que é contrário à natureza de Deus; se pode e não o quer, é malvadez, o que não é menos contrário à sua natureza; se não quer nem pode é simultaneamente malvadez e impotência; se quer e pode (o que de todas estas hipóteses é a única que convém a Deus), qual é então a origem do mal sobre a terra?”

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  4. Acredito que a expressao de Lactâncio que mais se aproxima da verdade é a 'pode mas nao quer'. Lembras do filme Constantine, (onde lhe fizeram uma caricatira um tanto quando ingênua e gordinha.rs)? Acho que Gabriel tinha um bom ponto de vista: as pessoas se aproximam dEle nos momentos mais dificies (entao ele resolveu trazer o inferno pra terra)

    O Mr. BarbaBranca precisa de vc pra dar ibope!!!


    Continue a saga Dia e Noite. Vou adorar ler sobre a luta dos anjos com suas palavras

    []'s.

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  5. Muito bom... mas, não podemos misturar ficção com realidade. A imaginação humana é ampla, ampla até demais, mas é finita. Nenhum filme ou peça teatral até hoje chegou perto de me descrever como realmente sou. Portanto, se quiser refletir sobre mim, sobre o inferno, sobre os anjos, ou até sobre Ele, livre-se dos paradigmas cinematográficos, dos modelos literários e dos esboços artísticos. Mantenha-os apenas como referência, e não como base.

    Entretanto, se seguirmos sua linha de raciocínio, na qual Deus "pode mas não quer", podemos concluir então que ele é, de certa forma, cruel. E se Deus é cruel, então Ele não pode ser mais o bem em essência, o que contradiz o próprio conceito de Deus. Concorda?

    Mas não se preocupe. Terei o prazer de recepcioná-lo pessoalmente aqui no inferno quando seu tempo aí em cima se esgotar. Assim, poderemos debater melhor o tema.

    Abraços abrasivos.

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